domingo, 13 de dezembro de 2015

03. Cordas Invisíveis

No dia posterior ao da celebração, finalmente cheguei a uma conclusão do que eu iria fazer a respeito da segurança de Kiara. Fui até o jardim e por lá fiquei, pensando numa forma de contar que eu iria deixá-la para me fortalecer, pois ela certamente irá criar resistências para que eu não vá.
 Acabei me esquecendo do tempo e apenas retornei à realidade quando senti um cheiro de flores dama-da-noite, que apenas minha esposa tinha aquele cheiro por conta do perfume que eu sempre dou de presente para ela. Realmente era Kiara, vestida com um kimono branco e prateado, os cabelos ainda úmidos e as mãos delicadas, quentes e macias em meu rosto.
- Meu bem, há algo errado? – perguntou ela com a voz baixa e melodiosa.
- Não se preocupe princesa, está tudo bem, apenas estou colocando os pensamentos em ordem e pensando em uma maneira de te dizer que eu vou me afastar com um tempo de você para eu me fortalecer. De uns tempos para cá, vários inimigos te usaram para me provocar, tudo porque eu não tenho mais aquela força que eu tinha.

 Ela meu olhava de modo sereno, parecendo compreender minhas razões e pela primeira vez acreditar nelas sem discutir ou me obrigar a provar nada. Tocou os lábios dela nos meu docemente e ficou ao meu lado.
- Se você prometer voltar para casa e para mim eu ficarei tranquila.
- Eu jamais te abandonaria, meu anjo.

 Kiara sorriu e ficou comigo, observando a lua crescente e a neve que caía. Alguns minutos depois, eu ouvi um pequeno suspiro e vi que minha princesa tinha adormecido. Subi para o quarto e me deitei com ela, mas não dormi. Fiquei a noite toda acordado contemplando a doçura de minha esposa.
 Um tempo depois, ela acorda vagarosamente, provavelmente por sentir minha respiração próxima dela.
- Eu te acordei, princesa?
- Não, meu bem, é que eu pensei que você já tinha partido.
- Eu jamais iria embora sem me despedir de você.


 Naquele momento, ela apertou a manga direita do meu kimono e deixou escapar um grito de sofrimento. Senti o cheiro do sangue dela e vi que o lado esquerdo da cintura do kimono dela estava tingido pelo sangue. Apareceu um corte no pescoço dela, perto da veia central e um fio muito fino reluziu pela luz da lua com o sangue de minha esposa, denunciando também a localização de outros vários fios cortantes. Antes que isso rompesse a vida de Kiara, eu cortei as cordas, que vinham da janela. No jardim, estava caída uma lira branca e o dono do instrumento fugindo covardemente.

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